quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Legai - Capítulo 2

Rim Elm era uma pequena vila na encosta da região de Drake Kingdom. Cercada por grandes muralhas de rochas de cor cinza e resistentes, ela protegia seus moradores (que não ultrapassavam quinhentas pessoas) da terrível neblina, a Mist. O oceano, que brilhava azul em contraste com o céu daquele dia ensolarado, banhava alegremente a pequena praia que o vilarejo possuía em seu território. Duas pequenas escadarias, formadas nos rochedos do local mesmo, é que davam acesso àquele lugar onde as pessoas relaxavam depois de um dia cheio.
     Perto das areias esbranquiçadas, um cata-vento de madeira movia sua hélice verde conforme os balanceios do vento sazonal. Perto dali, uma árvore solitária balançava sua folhagem verde preguiçosamente, escondendo uma pequena colméia de abelhas em seu interior. Outra árvore, no entanto, era a que mais merecia atenção: necessariamente no meio do vilarejo, sendo alcançada depois de descer por mais algumas escadas, ela era abundantemente verde em seu tronco; um verde vivo, mas que parecia triste, por alguma razão.
     Aquela árvore não havia folhas, apenas galhos nus que se estendiam inutilmente para os ares. Apesar da aparência pouco agradável, era enraizada no centro de uma espécie de pracinha, com piso e paredes de concreto, ladrilhados. Os moradores de Rim Elm mostravam grande respeito e prestavam suas rezas a ela, uma vez que seu nome era “Genesis Tree”, a árvore da vida.
     No mais, o resto do vilarejo era composto por casas pacatas, de madeira (a do prefeito ficava em uma elevação ao nordeste, quase em contato com a grande muralha). Rim Elm possuía seu próprio comércio, fazendo deste um dos poucos bons lugares para se morar desde que a Mist corroeu os Serus do mundo de Legaia.
     De uma casa não muito grande, perto da praia, um jovem de quinze anos aparecia à luz do Sol, com uma cara sonolenta. Ele tinha cabelos azuis, curtos, que não passavam abaixo de seu pescoço, mas que possuíam duas mechas em cada lado da face. Seus olhos eram de mesma coloração, mas com um brilho específico que só eles haviam.
     As roupas que o rapaz usava eram simples: sapatos de couro, calças compridas leves que combinavam com seus cabelos e uma jaqueta vermelha (com um desenho de uma chama laranja nas costas) por cima de uma camisa branca de gola amarela.
     Vahn coçou a cabeça, ainda de olhos cerrados, e bocejou sem preocupação alguma. Instantes depois, como se tivesse levado uma injeção de ânimo, estapeou de leve seu rosto, e sussurrou algumas palavras para si mesmo:

        Vahn:
     – Amanhã...! – sorriu em seguida.

     Fitou o céu azul e as pessoas de sua pacífica vila andando alegres sob ele. Algumas senhoras conhecidas lhe acenaram com a mão, dando-lhe bom dia, e o rapaz retribuiu da mesma maneira.

   

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Aviso

Pessoal postando uma nova história !!!!

Legaia - Prólogo

Deus criou os céus, as terras e os mares.
Depois de criar todas as coisas no universo, fez os seres humanos para que governassem sobre este mundo chamado Legaia. Porém, ainda que possuíssem uma inteligência divina, os humanos eram fisicamente inferiores às bestas selvagens, também residentes naquele mundo, e muito impulsivos de espírito; muitas vezes os homens beiraram sua própria extinção por conta destes fatores cruciais.
Preocupado com o futuro de suas criações, Deus enviou-lhes uma mística ajuda que certamente os socorreria.
Estes eram os “Seru”.
De acordo com a história, desde que a memória humana tem conhecimento, estas criaturas conviveram junto dos homens, em paz e harmonia, os obedecendo, e –ocasionalmente–, lhes fazendo mais fortes. Quando não está sendo utilizado por um humano, um Seru se assemelha mais a uma escultura rochosa. Entretanto, em contato com um humano, este pode ter sua aparência alterada e receber poderes secretos e misteriosos.
Com um Seru, os humanos podem levantar coisas dezenas de vezes mais pesadas que seu próprio peso; bem como voar livremente pelo céu azul.
Contudo, aquele tempo de alegrias chegou a seu fim...
Surgindo do mais absoluto desconhecido, a “Mist” (ou neblina) espalhou-se de sua origem no Reino de Karisto para cobrir todo o mundo, trazendo o fim da paz entre Seru e humanos. Depois que aquele mal imponente apareceu, os Seru, que originalmente obedeciam aos homens, rebelaram-se em sua fúria contra os mesmos: começaram a atacá-los, matá-los, possuí-los e transformá-los em terríveis monstros sem sã consciência que desejavam apenas sangue.
Como se houvessem sido esquecido por Deus, os homens entraram em colapso. Aquela seria conhecida como a Era Negra da Humanidade.
Os que escaparam vivos da terrível Mist abrigaram-se em áreas isoladas do mapa, se protegendo como suas capacidades permitiam. Agora, suas finadas esperanças são as únicas fontes de coragem e inspiração em seus corações preenchidos de medo; medo este de seus antigos companheiros: os Seru

Era dos Mortos - Capítulo 3

EXT.Cemíterio.Dia 3

O vírus criado pelo homen era um aerotransmissível de vida curta e tinha se dispersado rapidamente, infectando cerca de metade da população da ilha...mas os novos infectados correram atrás da outra metade, espalhando a doença. Alguns conseguiram escapar logo depois, mas entre os infectados, fugir tinha se tornando uma fria opção. A ilha inteira estava infestada. Talvez foi o que deveria ser. Talvez todos nos tivemos o que merecíamos. Rodrigo sabia que não era um homem ruim, mas não queria se enganar, ele também não era o mocinho. Ele já se fez de cego para coisas muito ruins em troca de um bom pagamento, e por mais que quisesse entregar a verdade, ele não podia negar sua participação no apocalipse que agora o cercava. Ele nunca considerou que algo assim poderia acontecer com sua equipe e consigo.
Outro cadáver passou perto de seu abrigo temporário. Rodrigo instintivamente agachou mais, e novamente teve que se esforçar para não desmaiar, a dor chocantemente intensa. Ele já tinha quebrado costelas antes; mais isso era diferente,algo interno. Fígado perfurado, talvez, morte certa se não conseguir ajuda. Considerando que a onda de azar permanecia, ele acabaria perdendo todo o sangue antes que alguém o comesse...
Seus pensamentos estavam vagando, a dor tinha se aprofundado e por mais que quisesse descansar, havia a garota, ele não podia se esquecer dela. Ele estava perto agora, muito perto. Um dos guardas, a tinha deixado inconsciente antes de fazer o exame físico e preencher o formulário, e isso tinha sido antes do ataque. Ela ainda devia estar na cela de isolamento, a entrada para o subsolo estava atrás dos destroços do helicóptero.

Rodrigo
Quase lá, depois posso descansar.

A maioria dos quase humanos tinham se afastado dos destroços em chamas, seguindo algum instinto primário talvez. Ele tinha perdido sua arma a caminho, e se pudesse correr para trás das lápides da parede oeste...
Rodrigo sentou-se calmamente, a dor piorando, fazendo-o se sentir enjoado e fraco. Devia haver um frasco de liquido hemostático no kit de primeiros socorros do presídio,ele poderia ao menos diminuir o sangramento interno, apesar de já estar preparado para aceitar a morte, tanto quanto qualquer um.
Mas não antes de chegar até a garota.

Rodrigo
Eu a capturei, eu a trouxe aqui. É minha culpa, e se eu morrer, ela morre também.

Apesar de todo o terror que tinha testemunhado naquele dia, os amigos que tinha perdido e o constante sofrimento de uma horrível morte, ele não conseguia parar de pensar nela. Mayo tinha sangue nas mãos, claro, mas não de propósito, não como a Extell. Não como ele. Ela não tinha matado por ambição, ela não tinha feito ser indiferente por todos esses anos...e ter visto sua equipe de elite virando espaguete pelos monstros, ter passado o dia lutando por sua vida, estava claro que levar a Extell par a justiça era o que os moçinhos faziam. A garota merecia algo por aquilo, mesmo se não for para morrer sozinha e no escuro. E aconteceu de ele estar com um molho de chaves tiradas do cinto de um guarda, com certeza uma delas serviria.
Faíscas subiam dos destroços para o céu escurecendo, pequenos insetos brilhantes sumindo, ocasionalmente acertando um dos zumbis mais próximos, chiando em sua pele cinza antes de apagar. Eles não se incomodavam. Rodrigo apertou os dentes e ficou de pé, ciente de que a jovem Mayo não duraria dez minutos sozinha, ciente de que queria lhe dar uma chance. Não era o mínimo que podia fazer, era simplesmente a única coisa restando.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Era dos Mortos - Capítulo 2


EXT.Cemitério.Dia 2

Rodrigo era sortudo de novo, era o que parecia. Ele teve dez dias para preparar suas tropas, dez dias enquanto o quartel tentava interrogar a garota sem sucesso. A viagem Paris/FortLand foi fácil.
Os pilotos eram de primeira e a garota ficou sabiamente calada. Todos os seus homens tinham sido preparados psicologicamente para a oportunidade, o astral estava alto assim que tocaram o chão e começavam a se prepara para os primeiros tiros.
E então, em menos de oito horas depois do pouso, em sua segunda visita a ilha, o complexo foi brutalmente atacado por desconhecidos, um repentino e preciso ataque aéreo.Com certeza foi financiado por uma corporação, tecnologia de ponta e munição ilimitada, os helicópteros e aviões cruzaram o céu como um trovejante pesadelo negro, o ataque bem planejado e impiedoso. Ate onde pode se dizer, tudo foi atingido, o presídio, os laboratórios, o centro de treinamento...ele pensou que a casa dos Gibson’s podia ter sido poupada, mas não apostaria nisso. O ataque foi devastador o bastante, porem imediatamente superado pelo que veio em seguida, o destruído laboratório de segurança máxima vazou meia dúzia de variações de vírus, e um numero de B.O.W.S experimentais escaparam. A serie de vírus transformava humanos em canibais sem cérebro, um infeliz efeito colateral, mas não tinha sido criado para pessoas. Através dos questionáveis milagres da ciência moderna, a maioria das armas vivas nem lembrava humanos, e o vírus as tornava maquinas de matar.
O caos prosseguiu. O comandante da base, aquele maníaco, Bold Gibson, não fez nada, e foi a vez dos soldados graduados liderarem.
 Os prisioneiros eram inúteis, mas havia soldados suficientes no chão para lançarem uma defesa e um contra-ataque sem sucesso; seus próprios homens caíram tão rápido quanto os outros, eliminados a caminho do helicóptero pro um trio de OR1, a espécie de vírus da vez.
Todo aquele treinamento perdido em apenas um ou dois minutos. Os OR1 eram particularmente asquerosos, violentos, agressivos e extremamente poderosos. Felizmente, apenas alguns deles tinham escapado... mas apenas alguns foram suficiente. Engraçado como sua equipe foi tão cuidadosa para evitar a infecção, usando mascaras desde as primeiras bombas e ainda assim foram mortos por uma forma de vírus.
Pelo menos foi rápido, antes de saberem o tamanho do problema em que estavam. Rodrigo pensou, invejando a esperança deles. Ele estava ferido, exausto, e tinha visto coisas que o assombrariam pelo resto da vida, independente de quanto longa ela seria. Eles foram sortudos. Fortland tinha se tornado um inferno na terra.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Aviso

Estarei viajando por um tempo, vai atrasar um pouco as postagens.
Mas deixei uma nova história de zumbis para vocês.
Deixando vocês com um gostinho de quero mais  ^^ .
Hehehe, mas assim que eu chegar juro que postarei em dobro !
Até mais.... E muito obrigado pelas visitas !
Espero que estejam gostando .

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Era dos Mortos - Capítulo 1

EXT.Cemiterio-Dia 1

Encarado pela morte eminente, cercado por infectados e pessoas morrendo, enquanto destroços do helicóptero em chamas choviam do céu, tudo que Rodrigo Juan Raval conseguia pensar era a garota. Nela e em um jeito de sair de lá.
-Ela também morrerá.
Ele mergulhou para se proteger atrás de uma lápide enquanto o cemitério chacoalhava.
Com um som de metal se estilhaçando em alta velocidade, uma grande parte do helicóptero em chamas caiu no canto mais distante do cemitério, espirando combustível nos apodrecidos prisioneiros e soldados.
Brilhantes e oleosas linhas de combustível espalharam-se pelo chão como lava grudenta e quando Rodrigo caiu no chão, sentiu uma tremenda dor na barriga, duas de suas costelas quebrando contra um pedaço de mármore escuro escondido debaixo do mato.A dor foi súbita e terrível, paralisante. Mas de alguma forma ele não desmaiou. Ele não podia se dar ao luxo.
Uma das pás do rotor cortou a terra a sessenta centímetros dele, levantando areia par o alto.Ele ouviu um novo coral de gemidos sem palavras, os infectados reclamando da chuva de areia.
Um guarda infectado passou por ali, seu cabelo brilhando como uma tocha, seus olhos cegos vasculhando.
Eles não sentem, não sentem nada, Rodrigo lembrou a si desesperadamente, concentrando-se em sua respiração, com medo de andar enquanto a dor ia de um berro a um mero grito.Não são mais humanos.
O ar estava pesado com uma enjoativa fumaça, cheiro de decomposição acelerada e carne queimada.
Ele ouviu alguns tiros em algum lugar no complexo carcerário, mas só alguns; a batalha estava acabada, e todos eles tinham perdido.Rodrigo fechou os olhos pelo tempo que conseguiu ousar, certo de que nunca mais veria outro nascer do sol. E por falar em dia ruim.Tudo começou a dez dias, em Paris. A Mayo tinha invadido a administração do quartel general e criado uma infernal e violenta briga antes que Rodrigo a pegasse.A verdade era, ele teve sorte ela tinha sacado a arma e estava vazia.
È, muita sorte, ele pensou amargamente.Se ele soubesse o que o futuro lhe reservava ele teria recarregado a arma para ela.
A recompensa por tê-la pego com vida foi a chance de levar sua unidade de segurança de elite para combater contaminados vivos no complexo FortLand, numa remota ilha do Atlântico Sul.
A garota terminaria virando uma cobaia para os cientistas, ou talvez uma isca para seu problemático irmão e os rebeldes do D.E.C.O.R, os quais Rodrigo não parava de ouvir. Dezessete pessoas foram seriamente feridas e outras cinco morreram durante a presença de Mayo na administração do quartel general.
Boa parte deles não eram confiável e Rodrigo não dava a mínima para eles, mas capturar a garota significaria que ele poderia conseguir um bom pagamento. A Extell podia transforma-la numa barata gigante de Néon, ele não ligava, e certamente fariam algo pior.

domingo, 10 de julho de 2011

The Fall - Capitulo 4

Seu irmão Gref havia sido apanhado por um enorme Espírito-Sombra, que tinha a forma imprecisa de um Borzog, uma criatura há muito extinta. Tinha pelo menos quatro trechos de altura e ombros larguíssimos. Seus braços se estendiam até abaixo dos joelhos e as duas presas em sua mandíbula inferior eram do tamanho das mãos de Tal. Sob a luz que vinha da torre, ondulava, na escuridão quase total, uma coisa de contornos e feições indefinidos.
A coisa mantinha Gref debaixo de um dos braços e havia puxado sua sombra-guardiã sobre o rosto do menino como uma mordaça. Não havia sinal algum do Escolhido a quem o Espírito-Sombra servia. Mas a quem quer que a coisa servisse, estava levando Gref de volta, provavelmente para o balcão da torre mais abaixo, onde Tal havia começado sua subida.
Tal hesitou. Queria salvar Gref, mas sabia que seria apanhado também. Isso não iria ajudar ninguém, nem a eles, nem a sua família. Como antes, sua única chance estava lá em cima, com as Pedras-do-Sol. Tal enfrentou o Véu mais uma vez. Tinha cometido um erro ao penetrá-lo muito devagar. Dessa vez, precisava chegar lá em cima, conseguir um apoio e subir através do Véu o mais rápido possível.
Respirou fundo várias vezes e levantou-se rápido, com as mãos estendidas acima da cabeça. Seus dedos roçaram numa pedra e, em seguida, sentiu alguma coisa em que poderia se agarrar. Um instante depois, sua cabeça penetrou no Véu.
Mais uma vez, a escuridão era total. Mas agora Tal estava preparado para ela. Ergueu-se por sobre a gárgula seguinte e estendeu a mão, à procura de outro apoio. Achou um, subiu novamente e, em seguida, repetiu a operação.
Ainda não havia saído do Véu e começou a ficar sem ar. Hesitante, respirou lentamente. Deu certo, mas o medo de não ser capaz de respirar foi logo substituído por outro temor. E se estivesse perdido no Véu? Talvez fosse impossível atravessá-lo, a não ser por dentro de uma das torres. Talvez estivesse preso dentro do Véu para sempre!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

The Fall - Capítulo 3

Tal balançou a cabeça e recomeçou a subir. Alcançou uma gárgula bem abaixo do Véu e, quase contra a sua vontade, agachou-se para não alcançar logo a escuridão que pairava acima da sua cabeça. Era quase como estar debaixo d'água olhando para cima, pensou Tal, a diferença é que havia escuridão em vez de claridade. Por fim, esticou a mão para cima, para dentro do Véu, e sentiu um arrepio ao vê-la desaparecer. Mas ainda conseguia senti-la. Ela ainda estava lá.
 Tal ficou de pé. No mesmo instante, foi cercado por uma escuridão total. Começou a respirar com dificuldade, seus pulmões pareciam se contrair. Não estava conseguindo ar suficiente! A escuridão sugava todo o seu ar.
Mergulhou de volta para a confortável penumbra com os feixes de luz que vinham das torres. Segurava a Pedra-do-Sol, que agora brilhava intensamente. Bem depressa, Tal olhou fixamente para ela e a luz se apagou. Ele não queria chamar atenção. E logo depois que a sua Pedra-do-Sol tinha se apagado, um grito abafado ecoou lá debaixo. Por um segundo, Tal pensou ter sido descoberto e se encolheu junto à parede da torre. Em seguida, se deu conta de que aquilo não havia sido o grito de um guarda ou o guincho agudo e inumano de um Espírito-Sombra. Parecia mais um grito de socorro.
O grito ecoou outra vez e Tal sentiu um estranho frio na barriga. Conhecia aquela voz! Rapidamente, olhou para baixo. A uns duzentos trechos, avistou o que parecia ser uma camisa branca, com detalhes em laranja. Era o mesmo tipo de camisa que Tal usava: um uniforme de criança, branco, com as mangas e os punhos da cor de sua ordem. Alguém o havia seguido.
Só podia ser Gref, seu irmão mais novo, um fora-da-lei de nove anos, que tentava fazer tudo o que o irmão mais velho fazia. Tal reconheceu sua voz e a pequena e frágil Pedra-do-Sol.
- Se me tocar, Tal vai explodir você em pedaços! Vá embora! Vá...
Subitamente, a voz de Gref se calou. Por um instante, Tal pensou que o irmão tinha caído, e seu próprio coração parecia ter parado de bater.

The Fall - Capítulo 2

Tal segurou com força a pequena Pedra-do-Sol na corrente de prata em seu pescoço, sentindo o calor dela penetrar em suas mãos geladas. Para entrar em Aenir, precisava de uma Pedra-do-Sol Original. Não apenas para si mesmo, mas também para sua mãe e para seu irmão e sua irmã mais novos.
Desde que a mãe adoecera, e o pai e a Pedra-do-Sol da família tinham desaparecido misteriosamente, Tal teve que assumir, de uma hora para outra, a responsabilidade de cuidar da família. Não estava preparado para isso, mas não tinha escolha. Precisava esconder seu medo bem no fundo de si mesmo e mantê-lo lá. Tinha que ser forte, mesmo que não soubesse de onde tirar essa força.
Queria que seu pai voltasse. Queria que sua mãe ficasse boa. Mas ele os perderia para sempre se fracassasse agora.
Para salvar sua família, precisava conseguir uma nova Pedra-do-Sol. Uma que fosse poderosa, não aquela pedra de criança que carregava no pescoço. Tal respirou fundo e enfiou de novo a pedra embaixo da camisa. Tinha que continuar subindo. Ultrapassar o Véu. Alcançar a plena luz do sol.
É claro que já tinha visto a luz do sol. Ele a vira várias vezes em Aenir, o mundo dos espíritos. Mas lá, ela era mais suave, menos brilhante. Apenas uma vez Tal tinha visto o verdadeiro sol. Quando estava com dez anos, levaram sua turma lá para cima, para além do Véu, e mostraram as Pedras-do-Sol sendo cultivadas em redes prateadas penduradas nas torres. Estava nublado, mas mesmo assim todas as crianças tiveram os olhos cobertos por suas sombras-guardiãs. Pedras-do-Sol podiam captar a luz solar, mas mesmo a mais poderosa não era capaz de se comparar à intensidade e ao brilho do próprio sol.
Naquela ocasião, eles tinham subido pelas escadas, por dentro da Torre Laranja. Tal nunca tinha pensado que um dia iria escalar uma delas... para roubar uma Pedra-do-Sol.
- Roubar uma Pedra-do-Sol - repetiu para si mesmo. Era o último recurso, a única saída que ele via para poder se salvar e a sua família. Tudo o mais já havia sido tentado.
E era também a coisa mais arriscada que podia imaginar. Foi uma escalada bem difícil só para chegar aonde estava, mas isso não era nada. Do outro lado do Véu, haveria guardas e armadilhas - poderosos Espíritos-Sombra que podiam destruir sua sombra-guardiã num segundo e capturá-lo. Era possível até mesmo haver outros Escolhidos, membros da Ordem Vermelha, que ficariam muito satisfeitos em agarrar um garoto da Ordem Laranja rival. Seria a Câmara dos Pesadelos ou coisa pior, e uma desgraça para sua família...

The Fall - Capítulo 1

Tal esticou a mão e se ergueu até a próxima ponta de ferro da Torre Vermelha. Parou para tomar fôlego e olhou para baixo, em direção às luzes cintilantes que contornavam as principais edificações do Castelo. Elas estavam muito longe, e a altura o deixou meio tonto. Rapidamente ele olhou de novo para cima.
O vento era muito mais forte do que imaginara. Uivava ao redor da Torre Vermelha e, em seguida, rodopiava pelas outras seis torres antes de voltar ainda mais forte. Estava esfriando muito, e a escalada tornava-se cada vez mais difícil. Mas a Pedra-do-Sol de Tal fazia o frio ser suportável.
Tal demorou duas horas para subir até o lugar onde agora descansava - uma escalada difícil, por entre as pontas de ferro, gárgulas e incrustações que cobriam a torre. Agora, estava a apenas quatro trechos do ponto onde a torre parecia terminar repentinamente, de encontro ao manto de escuridão total que se estendia pelo céu.
Era o Véu, a estranha barreira que mantinha o mundo todo nas trevas, impedindo a entrada da luz do sol.
Não que estivesse completamente escuro ao redor de Tal. Como na maior parte do Castelo, a Torre Vermelha era iluminada por pequenas Pedras-do-Sol presas nas paredes e nos tetos. A luz dessas Pedras-do-Sol saía pelas janelas, e assim Tal conseguia enxergar por onde subir. As outras seis torres também resplandeciam com a luz, em feixes brilhantes cruzando o céu.
A luz produzia muitas sombras bruxuleantes do lado de fora. Todas as gárgulas e bordas decorativas projetavam uma sombra escura sobre o vermelho ocre da torre. E havia também a própria sombra de Tal. Como acontecia com todos os Escolhidos do Castelo, ela não reproduzia a forma de seu corpo. A sombra que se movia junto com ele fluía e se transformava. Às vezes tinha a forma comum de um garoto de treze anos, às vezes parecia um gato ou um Corvil de duas cabeças, ou alguma coisa tão fluida que não era possível descrever.
Pois a sombra de Tal não era aquela com que ele tinha nascido. Era uma sombra-guardiã, uma criatura mágica de Aenir, o reino dos espíritos. Havia sido destinada a Tal quando ele nascera, para substituir a sua sombra natural e era encarregada de protegê-lo e ajudá-lo. Isso era muito bom, pensava Tal, afinal já era bastante ruim ver no espelho o seu corpo desengonçado e seu cabelo desgrenhado. Sentia-se aliviado por não ter uma sombra deles seguindo-o por toda parte.
A sombra-guardiã não mostrava que Tal era menor do que a maioria dos outros garotos de sua idade. Ou que seu sorriso ligeiramente torto fazia, achava ele, com que parecesse um pouco estúpido. Ninguém pensava assim, mas isso incomodava Tal. Costumava ficar horas se exercitando em frente ao espelho, tentando endireitar aquela crispação do lado esquerdo.
Ele não se importava que a sombra-guardiã fosse apenas um dos espíritos mais fracos de Aenir, um servo de criança. Quando completasse treze anos e três quartos, dentro de dois meses, ele próprio iria entrar em Aenir e capturar um verdadeiro Espírito-Sombra para servi-lo.Isso, se fosse capaz de entrar em Aenir.